O desafio de formar talentos de tecnologia no Brasil
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Vamos lá: o Brasil possui um déficit de formação de dezenas de milhares de profissionais de tecnologia. Olha as oportunidades aí para quem ainda está pensando: "qual é meu propósito de vida, qual é o meu propósito profissional?". Lembrando que propósito é aquilo que a gente faz porque quer. "Propósito", fazer de propósito. Então eu quero começar com que a gente reflita: quais são as iniciativas de inovação aberta que podem diminuir esse gap e como será o perfil desse profissional do futuro? Compartilhem com a gente, por favor.
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Tudo bem, vocês estão bem? Eu vi que teve uma dinâmica de dor, sim ou não? Massa. Primeiro, obrigado por estar nessa mesa com uma galera tão incrível assim. Eu gosto fazer uma reflexão a partir da experiência do Propotipando em que o talento, o profissional, essa inovação para uma tecnologia viciada... Porque há sempre o mesmo padrão de pessoas: uma galera que estudou numa escola boa, foi pra universidade, foi pra Disney... Eu acho que a quebra e a transformação vem de organizações e ações como as que estão aqui hoje: pessoal do Elite, a galera do Prototipando, o pessoal que fez a Blusoft também... Eu acho que olhar para pessoas que muitas vezes não entendem que esse espaço aqui é pra gente também. Esse é um ponto importante: que esses espaços de inovação e tecnologia são pra gente também. Eu acredito que é ali que está o ouro do processo de transformação que a gente está fazendo. Eu acho que jovens de periferia, casas de acolhimento, escola pública e espaço de sensibilidade social são esse fator de transformação que vai trazer, para espaços como esse aqui, a inovação. E, de novo, a gente está falando de um ambiente que tem uma tecnologia viciada. Então, pra a gente transformar esse processo, é investir em jovens que estão participando de projetos como esse. A gente gosta de dizer que não é para ser o único, para ser só o Prototipando, só o Elite ou qualquer outra ONG... Assim, é todo mundo junto fazendo movimento, e eu gosto muito da palavra "movimento"... Fazendo um movimento de transformação para aprendizagem de tecnologia. Eu acho que é por aí que a gente começa a troca de ideia.
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Que lindo, maravilhoso!
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Eu acho que pensando aí do caminho, primeiro... Maravilhoso tê-los aqui, gente! Muito obrigada por ter vindo aqui, nesse dia maravilhoso, na nossa casinha, tá... E assim, falando sobre o papel da startup, porque assim... Da startup e das empresas, no geral, tá, gente. O nosso papel também é de conseguir entender que aquela pessoa... O que foi que aconteceu durante muito tempo, né, gente: durante muito tempo as empresas, o que é que elas pediam até hoje? Três anos de experiência, cinco anos de experiência... Eu vi até uma piada, né, uma vez, em que disseram: "ah não, pediram dez anos em Python e as pessoas só começaram a aprender há oito anos", e pediram dez, sabe? Gente, pelo amor de Deus, sabe? Às vezes muitas companhias pedem uma experiência que não necessariamente, naquele momento, ela precisa daquilo para certos níveis de talento, tá? Então assim, como companhia, como uma empresa e como startup, especificamente, como é que a gente consegue abrir oportunidades que possam olhar mais? Não para o talento específico do que eu aprendi ali, só na universidade, mas também no potencial que aquela pessoa tem e do que ela quer ter pra vida, sabe? Às vezes eu sou uma pessoa que danço muito bem e adoro desenhar, e eu acredito que ali eu posso fazer uma carreira como designer na universidade. Será que dentro da empresa não posso querer uma pessoa assim? Que tenha esse perfil, que tenha esse talento? E que eu como empresa posso ajudar essa pessoa a entender, ali, o caminho dela com calma? Né? Então, assim, qual é o papel da empresa também nesse ponto? Então hoje a gente vê que, dentro da comunidade, como empresa, como startup, é abrir caminho para que as pessoas possam aprender fazendo.
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Show! Complementando, porque acho que a resposta de ambos foi bem bacana, bem completa... Mas acho que o papel das empresas tem uma responsabilidade grande aí de patrocinar e investir em programas como esses que vocês mencionaram. O que está acontecendo hoje aqui é espetacular, né. Parabéns pra Alana, inclusive, que vem apoiando também esse movimento. A gente precisa furar a bolha. Não é fácil. Esperar pelo sistema de ensino tradicional não vai rolar por uma série de fatores. Mesmo que houvesse muita vontade, não vai rolar pelo modelo que está instalado. Então a gente precisa colocar energia nessas iniciativas que chegam lá na ponta, né. Há muita oportunidade, se trata de, realmente, transformação de vida a partir da qualificação profissional. Nós estamos... Vou pegar um exemplo aqui, de Joinville: o Renan. O menino veio de Manaus, a mãe recém divorciada, muita dificuldade financeira, menor de idade... Aí começou o curso no modelo de bolsa. Antes de terminar o curso de programador, conseguimos uma vaga de trabalho para ele. Hoje ele está com dezenove, dois anos apenas. Ele é programador pleno, ganhando quatro mil reais, sustentando a mãe e o irmão mais novo. Imagina esse menino com vinte e cinco anos de idade, que vai ser um programador sênior. O potencial de transformação, de vida, né. Então eu acho que é disso que se trata, né, e vejo que as empresas em geral, as grandes, as corporates, já bem estabelecidas, têm um papel importante aí, até numa pegada de responsabilidade social: de investir nesses programas e apoiar. Porque eu acho que é o caminho.
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Perfeito! Já acabaram respondendo a primeira pergunta, que era "como o terceiro setor, empresas e universidade podem trabalhar para formar esses mais talentos?", né... Mas na visão de vocês, quem é e onde está, hoje, o profissional de tecnologia brasileira do futuro?
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Eles ainda estão na escola, tá? O que é que acontece: hoje a gente tem mesmo um gap na... Hoje a gente tem um gap, sim, na quantidade de talentos que estão saindo da universidade, tá, para a quantidade de vagas que a gente tem nas empresas. O que acaba acontecendo é que a gente está precisando muito de profissionais em diversas disciplinaridades, tá, gente? A gente tem diversos tipos de programadores, por exemplo, mas também designers, o pessoal que trabalha com projeto, com gestão de projeto... Profissionais também de todas as outras áreas que não são necessariamente técnicas, do ponto de vista tecnológico, tá... Então profissionais de recursos humanos, de marketing, que querem trabalhar especificamente na indústria de tecnologia, porque também é diferente, tá, gente? Às vezes a indústria de tecnologia tem uma angulação que é diferente de uma empresa tradicional. Então assim: muitos desses profissionais estão se formando, a gente está buscando esses profissionais no Brasil inteiro, a gente abre as vagas para conseguir trazer essas pessoas, dá uma compensação competitiva, dá um ambiente de trabalho competitivo, mas é muita vaga, sabe? Tem muita vaga dentro desse nicho! O que acaba acontecendo aqui, e que eu acho que aqui é um ponto que nós como empresas temos que entender também... Às vezes a gente fala sobre muita vaga, muita vaga... Só que às vezes são muitas vagas muito sênior, são ali aquelas pessoas que estão com quinze anos de experiência, doze anos de experiência, que é justamente: como que a gente faz para puxar o pessoal que está na escola, o pessoal que está nos primeiros anos da universidade, o pessoal que não está na universidade, que está em casa fazendo e aprendendo em cursos online. Tem muito profissional bom que está fazendo isso, sabe, pessoal... Como é que a gente faz para puxar essas pessoas? Então não é diminuir a nossa exigência como empresa, não, mas é entender que: "poxa, será que eu preciso realmente desse requisito que eu estou colocando aqui?". Poxa, gente, não! Não é assim. Às vezes eu não preciso, sabe? Então eu sinto que esse pessoal está fora do lugar óbvio, não está só na universidade, também está na escola, também está em casa aprendendo curso, também está se desenvolvendo de outras formas.
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Eu acho que está muito na diversidade, o profissional do futuro na área de tecnologia... A tecnologia pela tecnologia está aí, igual... O painel anterior falou muito sobre isso. Eu acho que os diferentes olhares, as experiências, diferentes experiências de vida, vão proporcionar soluções mais inteligentes e aí vão fazer o melhor uso da tecnologia. Então eu acho que a gente tem que, realmente, furar a bola novamente, não quero ser repetitivo, mas é o caminho. É esse mesmo: sair do óbvio, como você bem mencionou e enfim.
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Gostei dessa frase, né, "sair do óbvio". Vou roubar ela, tá? Daí eu vou "puxar a sardinha", porque a gente [PAQ] está fazendo (isso), essa juventude que está aqui, essa galera incrível... Que é sair do óbvio da universidade, mas criar espaços para que a gente possa trazer os talentos dos espaços de sensibilidade social para dentro desse universo, e aí eu pego o link no que você falou de diversidade. Por que que eu estou fazendo essa reflexão e porque que é importante vocês estarem aqui? Eu estou falando isso para os jovens que estão ali vendo a gente, as outras pessoas também. Mas eu acho importante essa reflexão porque não é só o curso. Você precisa criar um ambiente de aprendizagem e trazer essa galera para que ela sonhe em estar dentro do nível de tecnologia e inovação. Eu acho que esse é um primeiro ponto de reflexão. A gente tem talentos incríveis dentro dos espaços de sensiblidade social. Por que eu falo "espaço de sensibilidade social" e não falo "favela", só, "comunidade"? Porque a gente tem casa de acolhimento com criança que foi tirada do convívio familiar, a gente tem escola pública... Então eu acho que pensar essa estrutura, de como a gente traz essa galera para cá, que já é uma galera incrível. É aquele negócio do... Eu odeio anglofonismo, mas "best to better", "os bons para os melhores", né. A gente pensar em como que a gente puxa essa galera que já é boa, que não se não se vê dentro do universo de tecnologia... Eu acho que é uma coisa muito distante. A gente coloca ele dentro do ambiente propício, com qualidade, para se desenvolver e daí faz parcerias. Eu acho que esse é um ponto importante, né: parceria com startup, parceria com indústria, parceria com curso bom, parceria com ONG, parceria com escola. E a gente cria um movimento. A gente cria um movimento de aprendizado e inserção no universo de tecnologia... Porque é muito fácil quando você está pensando universo de faculdade: um cara que estuda numa universidade federal, uma estadual... Aqui tem a Udesk com engenharia e tal... Falar para ele: "ah, cara, sonha em ser um programador e ganhar grana", está ligado? "Quem aqui quer ser programador e ganhar grana?", pergunto. Quem quer fazer outra coisa na área de tecnologia e ganha grana? A gente tem um auditório cheio, deve ter aí uns setenta jovens que já entenderam... Vocês entederam, né? Que o mercado de tecnologia é "da hora", né? Paga legal, tem piscina de bolinha e tal...
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Escorregador!
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É! Mas que dá para sonhar mais alto. Dá para sonhar que isso é um caminho, então acho que, você perguntou: "onde que a gente acha o profissional do futuro?". Está aqui aqui, ó. Aqui tem uma parte e, se a gente fizer todo esse fluxo de apoio... O SG veio para ficar, né? Então a gente consegue ter mais. Eu tenho uma teoria doida, que é: o Brasil pode ser o maior importador... Importador não, exportador de mão de obra de tecnologia do mundo. A gente tem fuso, a gente tem gente genial, falta colocar num lugar "da hora", ensinar o inglês aí e já era... E para as empresas daqui. É uma concorrência desleal pagar em euros, certo? Vocês que têm empresa, é foda pagar em euro, né? Agora pensa em formar a galera aqui dentro, então é aí que eu acho que a gente vai trazer esse pessoal.
[00:12:55]
Deixa eu fazer uma pergunta para ti, que eu sei vai responder lá da tua alma; que a minha alma já se conectou à tua desde que a gente se encontrou aqui. Como é que você, e aí, por favor, vocês fiquem muito à vontade para complementar... Como é que a histórica desigualdade social brasileira afeta o preenchimento das vagas abertas em tecnologia? Afinal, existem vagas, mas porque não existem profissionais para suprir essas vagas?
[00:13:26]
O Rappa fala, né: "a minha alma tá armada e apontada para a cara do suspeito". Você falou da alma, né... Então estou aqui, já vim preparado porque sempre fazem essa pergunta. Qual que é a relação histórica? Se a gente parar para ver, após a abolição da escravatura, a galera que é preta, parda... Gente que é indígena... Não teve um processo de ser acolhido e colocado dentro dos espaços comuns. Aí a gente pensa: "porra, antigo, né", "história, nada a ver"... Não, cara, isso vem acontecendo sistematicamente. Eu vou dizer minha idade aqui, eu tenho trinta e oito e sou da época que não existiam ações afirmativas para acesso à universidade, e eu sou o primeiro formado da minha família. Para os meus pais e meus avós, estar no ambiente universitário não fazia parte da realidade. Foi... Foi uma retratação histórica poder acessar a universidade. Minha família não teve acesso. É porque eles não eram esforçados? Não, cara, meu pai é genial... Meu pai é "puta" "professor pardal". E daí eu penso: eu não era o mais genial da minha quebrada, tinha gente muito mais cabulosa do que eu... Eu tive direito garantido e conexões com expansão de um universo. Eu acho que esse é um ponto importante que a gente tem que fazer reflexão aqui. Eu não estou dizendo que ter política afirmativa não é importante, estou dizendo que a gente precisa sistematicamente criar ações para que a galera expanda seu universo, que queira estar... Quem já tinha vindo no Ágora, aqui? Quem nunca tinha vindo no Ágora? Essa galera que entrou que estou aqui agora, que é a grande maioria, hoje pode dizer: "'puta', deve ser mó 'da hora' trabalhar aqui", "deve ser 'mó' bacana, né, estar numa empresa das paredes de vidro e dos puffs colorido"... Até ontem não. Então eu acho que pensar essa relação... E quando eu estou olhando especificamente para a favela, comunidade e tal... É garantir que a galera que está lá, que já cria inovação... E esse é um ponto importante que quero deixar aqui no painel, que bom que está sendo gravado, né... A inovação está dentro da periferia também. A nossa função histórica é conseguir criar espaços de qualidade para que essa galera se desenvolva. É isso que a gente vem fazendo no PAQ, né: colocar o pessoal dentro de um lugar junto com startup, com computador legal, com pãozinho com mortadela... O pãozinho com mortadela vale a pena. Porque que eu estou falando isso: criar esses mecanismos nada mais é do que garantir um acesso que não era normal, tradicional... E falar: "cara, é possível sim". Então eu acho que a função, que nem você trouxe, das empresas, das startups, dos centros de inovação, do poder público... São várias pessoas trabalhando junto para que isso aconteça, para que a gente consiga quebrar os muros entre o asfalto e a comunidade. Eu acho que se a gente quebra esses muros, primeiro: a gente qualifica a tecnologia. A gente faz com que a inovação aconteça de verdade, com outros "backgrounds históricos", e ao mesmo tempo a gente fala para a galera: "ah, não era seu espaço aqui", "não, é sim!" e "a gente precisa de vocês!". Eu acho que esse é um ponto de virada que a gente tem que debater aqui. Ações como o Prototipando, como o Elite... A gente não está pedindo favor. A gente está resolvendo um problema do mercado, certo? Você falou isso: falta profissional na área de tecnologia, e vários, né, não é só programador; tá faltando profissional. Eu estou vindo aqui e falando: "e aí, vamos resolver esse problema?". Eu acho que é por aí que a gente pode continuar falando sobre isso, sobre essa reparação histórica que resolve um problema do mercado.
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E tu acreditas que... A pessoa decidir, ou talvez encontrar meios e suporte para ela aprender a curar-se de muitas coisas, também... Talvez é o que falte além do conhecimento técnico e teórico? E que talvez (isso) já está meio que disponível?
[00:17:21]
Deixa eu te contar uma coisa do PAQ, que aí eu vou falar e daqui a pouco estou em cima da mesa gritando; eles sabem que eu faço isso. A gente não faz curso no Prototipando, a gente cria experiência de aprendizado. A gente criou um termo chamado Centro de Experiência de Aprendizado, que é o que a gente faz dentro dos espaços de inovação: "coloca a galera lá dentro". E não é só hard skills, não é só habilidade técnica. Quem aqui faz Roda de conversa do PAQ? Na roda de conversa, a gente tem parceria com psicólogos e eles fazem esse processo de trazer problemas do cotidiano e é um monte, uma "caralhada" mesmo... E trabalham isso para que você crie ferramentas para que esses jovens possam lidar com toda essa bagagem. Eu não quero que seja exclusividade do Prototipando, eu quero que todo o lugar de aprendizado tenha isso. Tem uma analogia que eu faço para você entender essa importância de não olhar só para a task técnica. A gente tem que criar uma jardineira, pegar os melhores... Pegar os brotos, os melhores brotos, colocar dentro dela e colocar muito adubo. E adubo é roda de conversa, é um computador legal, é o transporte, é a alimentação, é vir para um evento incrível como esse daqui... Então é você criar vários cenários para garantir que toda essa negligência, toda essa falta de direitos garantidos... Não é que ela seja suprida, mas que eles consigam criar ferramentas para poder estar aqui dentro.
[00:18:47]
Perfeito...
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Não só aqui, mas nas empresas também.
[00:18:49]
E como você bem falou, não é só da comunidade, é um aspecto de forma geral, né? Eu sou professora universitária... Em uma disciplina de comunicação e negociação, dos trinta e nove em sala, um não quis se abrir. Está estampado na cara dela, que a grande dificuldade da comunicação dela é a falta de estímulo que ela teve. Talvez os bloqueios de ter escutado uma vida inteira: "cala a boca!", "a criança não fala, não participa"... E ela levou isso para a vida adulta e ela está na faculdade achando que o diploma vai mudar a vida dela. E é uma cura de dentro para fora que precisa acontecer, né?
[00:19:20]
Eu posso dar um exemplo? E depois eu vou passar para o painel, porque eu acho que uma reflexão que a gente pode fazer, que...
[00:19:25]
A Laís liberou a nossa conversa aqui!
[00:19:27]
Que é... Em todos os espaços, não só os do PAQ, mas eu gosto de dar esse exemplo... Que eu gosto muito de histórias, né. Muitos educandos, quando chegam dentro da imersão, que é o nosso onboarding de oito semanas para o universo de tecnologia... Eles chegam assim. [Gesto]. A galera chega fechada, "capuzão" aqui, "pá"... Passam as oito semanas, eles estão em um processo que foi de acolhimento e foi criar situações-problema para que eles aprendem a se expressar, trocar a ideia. Vocês já passaram por isso nas empresas de vocês? Eu estou trazendo exemplo que a gente passou e a gente criou mecanismos para que a galera conseguisse se conectar, porque eu acho que esse é o ponto mais genial... Não é só você aprender PHP ou Python... É você conseguir falar: "'pô', estou desenvolvendo isso aqui, me ajuda"; troca uma ideia, "vamos pensar juntos uma solução". E eu acho que fazer isso com uma galera tão jovem... Dezesseis, dezessete, dezoito... Quando eles tiverem a minha idade, cara... Imagina o que eles vão estar desenvolvendo! Eu acho que a gente pode trazer essa reflexão também para o painel, que é: como que é quando a galera chega nas empresas de vocês, no espaços de vocês, e é uma pessoa que não teve esse desenvolvimento sócio-emocional. Tem a task, mas não tem a soft skill. E aí?
[00:20:43]
Antes de ir, posso...? Antes de responder essa questão, na minha visão tem um elemento agravante além das questões históricas que foram mencionadas aqui... Em relação à tecnologia. É como fazer toda essa galera acreditar que é para elas também. Porque além de todos os aspectos históricos e culturais que a gente falou, a área de tecnologia tem um estigma muito medonho, do tipo: cara, isso só para um nerd, só para o cara que é o monstro da matemática...
[00:21:16]
É só pro "cara"!
[00:21:17]
É só pro "cara"... "Eu não sei", "não"... "Eu ia mal para caramba na matemática, na escola; nunca vou ser um programador"... Então, assim, o desafio... E eu não tenho um resposta para isso, essa inquietação... Como chegar no coração dessa galera e dizer: "cara, tu é um ser humano e o ser humano é inteligente porque é ser humano, normal!". Então você tem como aprender, é possível aprender, sim! Vamos lá, é para você também. E quebrar o estigma da tecnologia que soma a questão histórica. Então, por isso acho que é tão difícil.
[00:21:51]
Não, sobre o ponto, aqui, até da nossa reflexão de como que a gente cria esses espaços... Não é à toa que a gente chama o ambiente da tecnologia de "ecossistema". Tá? Não é à toa que a gente chama isso. Eu acho que a gente acabou perdendo um pouco, às vezes, o significado disso, porque... Porque tem muito centrismo ali, né... E quando uma startup vai crescendo... Eu acho que foi um dos painéis que o... Acho que foi o Marcel. (Ele) falou sobre, ó: a empresa vai crescendo, ela vai esquecendo do ecossistema, sabe? Ela vai, ainda parece daqui a dez anos e coloca um logo em qualquer lugar, sabe? Então assim, também é um desafio muito grande pra gente, Jeff, acolher a pessoa que tem um perfil... Porque é muito fácil acolher o extrovertido. É muito fácil acolher a estrela. É muito fácil. Mas como é que a gente faz para acolher todos os perfis? Porque assim, pessoal, quando a gente fala de startup, tá, geralmente qual é a história que se sempre... Se sempre escuta, né, porque agora não é mais assim... Mas qual era a história que se escutava muito: dois caras, três caras, numa garagem, os "brothers" da tecnologia, três programadores... Era sempre assim. Ah, e eles tinham uma estrela, eles tinham... Eles se iluminaram, nasceu ali de dentro deles, sabe? Se a gente não cria de alguma forma, como empresa, mas não só como empresa "pessoa jurídica", mas também como indivíduos da empresa, pessoas físicas, que estão ali dentro do espaço da empresa... (Se) a gente não começa a entender que uma pessoa que tem um perfil diferente do que aquela empresa está pedindo, que é daquele jeito... Que ela não pode trazer uma incrível ideia, que ela não pode trazer uma mudança completamente diferente no ambiente de trabalho, que ela não pode trazer, mexer na dinâmica que a gente está acostumado... Que a gente está acostumado porque é fácil, galera! É fácil! Se a gente, nós, pessoas físicas, dentro das empresas, também não começarmos a nos colocar nesse espaço aqui também... Porque para vocês, gente, é maravilhoso estar aqui e pra gente também, porque agora eu estou podendo conversar com você, com você e com você... E tem coisas também que já estão fervilhando na minha cabeça. Enquanto está acontecendo, eu já estou puxando: "realmente, eu deveria olhar mais para isso", "eu deveria conversar mais com tal pessoa", "eu deveria puxar mais tal coisa", "vou fazer diferente".
[00:24:30]
Ô Gabi, deixa eu aproveitar e perguntar para ti: quais são as habilidades mais procuradas e como que esse profissional... Ele pode se preparar para essas oportunidades que estão aí aguardando esses jovens?
[00:24:45]
Muito bom, muito bom... Então, tudo vai depender da verdade do desafio que a gente tem e da necessidade que a gente tem naquele momento. Pensando, por exemplo, no recorde que a gente tem aqui, de gente super jovem com muita vontade de trabalhar e com muita vontade de aprender, né... Hoje o que a gente está fazendo é se adaptando para conseguir puxar esse perfil aqui para dentro, então não necessariamente você precisa saber, tecnicamente, "X", "Y", "Z", tal coisa... Mas você está com muita vontade de fazer isso? Você quer muito aprender isso? (Então) a gente vai encontrar uma forma de fazer isso acontecer, sabe? Não vai dar para acontecer com muita gente, não, porque a gente também não consegue colocar... Poxa, adoraria colocar duzentas pessoas de uma vez só na empresa, mas seria ruim para as pessoas que entram também. A gente não ia conseguir suprir, mas... Está a fim? Quer aprender uma coisa nova? O que foi que você já começou a fazer? Eu escutei... Eu estava, antes de entrar aqui no painel... Conheci alguns de vocês, que eu já estive conversando, e algumas pessoas disseram: "poxa, ali no Prototipando eu estou fazendo um projeto que tem a ver com design, e eu estou criando uma empresa; estou criando um projeto ali para criar uma empresa que tem a ver com design e eu percebi que eu gosto de design". "Você fez alguma coisa em design?", "não, ainda não fiz...". "Gosta de desenhar?", "gosto!". Maravilha! A primeira coisa eu preciso de um designer é que ele goste de desenhar! Sabe? É o primeiro passo. Então, assim, é isso que a gente está buscando, sabe? Assim, quando a gente pensa nesse perfil que a gente tem aqui, tá? Só uma coisa muito rápida: antes de começar a trabalhar em startups, eu trabalhei durante muitos anos em empresa tradicional mesmo, tá, gente? E uma das... Uma empresa tradicional que foi muito importante para mim, foi uma escola... Para mim... Tinha um termo que era: "gente jovem, muito boa e com muita vontade de trabalhar". Sabe? Então, assim, quer aprender? Está com muita vontade trabalhar? A gente vai trazer isso aqui para a vida e fazer isso acontecer de uma forma.
[00:26:54]
Talvez hoje em dia está um pouco menos desafiador a gente se destacar, pensando que o ser humano, de uma forma geral, está vivendo tão no automático, de maneira tão apática, que quer fazer mais do mesmo... Que quer só tirar o sete para passar... E (que) se a gente se esforça um pouquinho mais, ainda que a gente não tenha aquele currículo extremamente recheado, mas com algumas boas softs skills na manga, a gente consegue se destacar muito mais, né?
[00:27:23]
Eu vou só fazer, assim, uma consideração rápida sobre esse ponto, porque assim, às vezes o que é que acontece... Quando alguém vai pergunta para você: "ah, você tem experiência em vendas?", né. Porque assim, carreiras normais, convencionais, digamos assim... "Ah, você tem experiência em vendas?". A primeira coisa que uma pessoa que nunca trabalhou especificamente em uma empresa diz: "não tenho experiência em vendas". Só que acabei de conhecer uma moça maravilhosa aqui, do Prototipando, também que eu falei... Ela falou: "ah, eu criei um projeto para a gente criar uma empresa de doce"... E ela tava me contando: "ah, estava criando a empresa de doce com umas amigas e tal"... E eu perguntei: "vocês ganharam dinheiro?", "ganhamos, a gente fez uma viagenzinha! Eu e minhas amigas...". Aí: "sério?". "É, a gente foi até numa pizzaria e tal". Gente, isso é experiência em vendas! Sabe? A questão é que às vezes a gente coloca, né, e as empresas colocam muita trava em certas experiências se a pessoa... "Eu fiz isso", "eu aprendi isso", "eu desenvolvi isso"... "Eu tenho experiência em vendas, não formal, mas eu tenho". Sabe? É a forma como a gente enxerga as experiências.
[00:28:30]
De novo: autoconhecimento, autoconfiança e autoestima, né? Que precisa ser algo para nos blindar. [Gesto]. Por favor.
[00:28:37]
Ainda nessa questão de habilidades, né, eu acho que a habilidade fundamental aí se destaca, realmente, e a gente vem chamando aqui de IVP alto. Que... Não sei se vocês que escutaram esse termo: "IVP alto", índice de "viração" própria. É tipo: vai à luta, pesquisa... Porque assim, essa geração... E assim, eu só acho que sou mais velho daqui, né. Com certeza sou o mais velho. Eu... A gente tinha que ir até a biblioteca no centro para ler um livro, para pesquisar, e hoje a gente tem toda a informação do mundo na palma da mão, mas a gente não tem muito aquele ímpeto de se virar. E está muito alinhado com a força de vontade que você falou: tendo vontade de se virar, e hoje mais cedo também foi falado muito de solução de problemas... Então o conhecimento técnico, a tecnologia, está disponível. Você dá um Google ali, vai achar, vai entrar num tutorial, vai achar o jeito de fazer, mas a força de vontade... Isso tem que vir de cada um de nós. E perguntar, levantar bandeira; (algo) assim: "'pô', eu não sei, me ajuda aqui"... E ir atrás, que é esse índice de "viração" própria. Então para vocês que estão em vias de entrar no mercado de trabalho, com certeza esse é um grande diferencial. "Não sei, mas eu vou atrás". Eu não sei agora, mas eu vou atrás, vou perguntar para quem sabe e daqui a pouco volto com a resposta.
[00:29:58]
Ô Fabiano, isso aqui a gente chama, no PAQ, de "pique do PAQ". O pique do PAQ é... A gente foi definindo, né, o que seriam os alicerces de aprendizado e de vivência que a gente queria para os educandos, e o pique do PAQ é esse "se-virol", é o desenrolo, "borogodó", essa... "Vou dar um jeito". Isso é presente dentro do nosso processo. Tem uma coisa que eu queria trazer para a gente pensar, que isso também é processo de aprendizagem. Você aprende a ser desenrolado, você aprende a ser comunicativo, você aprende a desenrolar as coisas. Tem uma coisa que a gente fala no Prototipando, que é: é preciso aprender a aprender. Essa é uma das bases que a gente tem, a gente tem um tripé, né: aprender a aprender, trabalho colaborativo e trabalho por projetos, mediação entre pares, tem... Tem vários conceitos, né? Mas uma das coisas que a gente fala muito, e eu gosto muito do Murilo Gun, que ele fala isso também, que é o... Não é dele o termo, tem uma galera, mas que é o "long life learning". Você sempre vai aprender, "parça", você sempre vai estar passando por um processo de: "eu tenho que desenvolver uma tech nova", "vou ter que aprender uma tecnologia nova", "eu vou ter que aprender uma metodologia ágil", "eu vou ter que aprender a desenrolar um xaveco para conseguir ficar com alguém na balada"... Então qual que é a grande sacada? E daí, uma coisa que você trouxe, que é muito importante, é: primeiro eu tenho que criar um lugar onde eu possa mostrar as minhas experiências de aprendizagem. Isso fica a dica para a Elite e... Para os nossos a gente já faz, que é: cara, faz um Behance, faz um Git(Hub), coloca os "bagulhos" lá... E quando você for numa entrevista que... Você nunca teve uma entrevista antes, você fala: "eu tenho isso aqui". A chance de você contratar alguém que falou: "puts, ó, eu não tenho experiência de trabalho, mas eu tenho isso aqui..." é muito grande! Eu queria ter tido alguém para me falar isso com dezessete, dezoito anos, está ligado? Alguém falar: "cara, faz um portfólio!", "bota um GitHub lá", "bota um Behance"... Acho que primeiro entender que você tem que colocar suas experiências e todas elas são experiências que você pode mostrar. E a segunda é: cara, você vai ter que aprender para o resto vida. Acabou! Acabou. E é preciso ensinar a aprender. É preciso entender que: "'pô', eu posso aprender com um podcast"; que eu posso aprender lendo, que eu posso aprender ouvindo um audiobook, que eu vou ver um vídeo no YouTube... Isso a gente ensina, cara. E é processo de ensino e aprendizagem. E acho que esse é o ponto, e é um desafio nas empresas fazer isso também. A gente sabe, a gente está aqui dez... Nossos mentores, que vêm da área de tecnologia, falam isso: "cara, a forma como vocês são criando essa infraestrutura, esse cenário de aprendizagem, essa arquitetura de aprendizagem, é importante".
[00:32:40]
É decisão e atitude, né. Eu comecei meu décimo primeiro livro esse ano e, quando eu falo isso para os meus alunos, eles falam: "ah, é que eu não tenho tempo", "é que eu trabalho e estudo"; e é de encontrar formas de incluir no tempo que a gente tem disponível um jeitinho, né. Por exemplo: eu nunca saio de casa sem um livro. Hoje, aqui, depois do almoço, eu li duas páginas! São duas páginas a menos! Só que a gente quer esperar o cenário perfeito, aquele... Aquele ano sabático, um tempo ocioso e não é assim que a gente realmente, né, aprende a aprender efetivamente. Deixa eu perguntar para vocês: como é que as empresas podem trabalhar como parceiros externos para inovar na formação de talentos e trazer essa questão da empregabilidade? E aqui fala: quais são os bons exemplos locais que temos? Se vocês estiverem alguma referência...
[00:33:32]
É... Investir em programas como esses, que a gente mencionou, naturalmente... E sair da caixa, sair da caixa. A gente tem incentivado algumas empresas aqui... Joinville especialmente é muito industrial, né, então acaba tendo um perfil pouco diferente, mas mesmo em empresa industrial, por exemplo uma metalúrgica... Elas podem trazer e incentivar filhos dos seus funcionários a entrar nessa área e apoiar... Apoiar comunidades ao redor do entorno, né... Então a gente tem buscado parceria com as escolas públicas aqui da região; tem uma série de iniciativas acontecendo nesse sentido. Passa por decisão, né, porque no fim do dia as empresas são CPFs, então tem que ter lá um CPF que diz assim: "gente, não, isso é importante". "Vamos colocar energia nisso, vamos colocar dinheiro nisso, porque é importante". Então acho que a gente precisa achar esse CPFs dentro das corporações e que decidam investir em programas que furem a bolha. Não vejo outro caminho.
[00:34:34]
Ô Fábio, se tiver um CPF desses para apresentar pra gente...
[00:34:39]
Não, é sério! A gente precisa entender e eu faço essa provocação porque, primeiro: nenhuma empresa mais é empresa específica de tecnologia, todas as empresas vão ter áreas de tecnologia! Acabou, cara. E a gente quer conversar com elas para que a gente possa fazer esse movimento. Se hoje a gente tem cinquenta jovens no prototipando aqui, no ano que vem eu quero cem. Meu sonho grande é chegar a um milhão, "parça". Então a gente precisa desses CPFs, desses CNPJs, que queiram conversar com organizações como as nossas, e eu não estou falando só do Prototipando, tem outras incríveis também, né... Então eu acho que esse é um ponto, e você pediu um exemplo clássico...? Voluntariado, gente. A gente trabalha com mentores voluntários que acompanham todos os nossos educandos. Então tem... Cada um deles tem um programador, um designer, alguém de social media, audiovisual... Que os acompanham no processo que eles desenvolvem junto com a gente... Pedagogia de projeto, né: eles desenvolvem projetos e vai ter alguém acompanhando, e essa é uma forma muito fácil da galera se conectar com esse processo de aprendizado. A gente está desenvolvendo agora um curso para mentores; a gente viu que é uma dor das empresas e, ao mesmo tempo, as pessoas querem vir para: "'pô', como que eu posso fazer com que a 'rampagem' de aprendizagem, a 'rampagem' de conhecimento seja mais a ligeira?". Então eu acho que essa é uma ação, uma boa prática que a gente fez, que dá certo... Investir informação de mentores é bom para todo mundo, a pessoa aprende como trabalhar com os juniores que estão chegando, ao mesmo tempo que está impactando a vida de alguém... Então eu acho que ter esse processo coletivo de... A gente chama de comunidade de aprendizagem, né. Então a gente tem essa ideia de comunidade e mentores são um exemplo clássico de que isso funciona na real.
[00:36:19]
Quanto tempo tem o... Esse movimento de vocês?
[00:36:23]
A ONG "Prototipando"?
[00:36:24]
Isso!
[00:36:25]
Você quer o real ou a que falo no pitch? No pitch começou em dois mil e dezoito comigo subindo o morro para trabalho de oficina de tecnologia na periferia. De verdade, a gente...
[00:36:35]
Você é da área de tecnologia?
[00:36:36]
Eu sou! Eu fiz técnico, depois fiz graduação em licenciatura... Eu tenho... Eu gosto de dizer que eu sou medíocre em um monte de coisa, mas é bom porque me dá uma visão muito ampla das coisas. Eu trabalhei com animação, com um monte de coisa... Só que no ano passado a gente oficializou a associação, a gente abriu a ONG... Aí veio eu, a Iohanna que está aqui, o Pedro; o Gui, que... Está nos Estados Unidos, tipo aquela do Canadá, lembra? A Luísa no Canadá?
[00:37:04]
A Luiza! [Risos.] A minha filha Luiza.
[00:37:07]
É... Então, nós somos quatro founder e no ano passado a gente oficializou. Por quê? Era preciso dar o pulo grande. Era preciso largar tudo e vir para cá para poder fazer. Em um ano e meio, a gente cresceu mais de duzentos e cinquenta por cento, então, se eu fosse um startup, eu já estava indo para... Eu acho que Series A talvez não, mas eu já estava passando por algumas rodadas de investimento. Porque é o impacto que a gente está gerando. Então só retornando, né, para o tópico inicial... Pensar não só o Prototipando, mas toda a rede que é criada em torno... É preciso para você conseguir fazer essa transformação e trazer esses profissionais. Então eu acho que as empresas têm que pensar nesse processo: "como eu me conecto neste ecossistema?". (Quanto ao) ecossistema de tecnologia, elas já estão aqui. Agora como é que eu conecto no ecossistema de quebrada, de favela, de ONG, de terceiro setor...?
[00:37:59]
Eu acho que... No caso, como empresa, é não esperar o momento ideal para tomar algumas decisões sobre... "Vamos trazer as pessoas para cá". Sabe? Assim, por exemplo... Hoje mesmo, a gente... Quando a gente começou a pensar sobre: "poxa, vamos conhecer o pessoal", "vamos... O pessoal do Prototipando a Quebrada vai estar aqui", "poxa, vamos chamar o pessoal para conversar". A gente...
[00:38:25]
inclusive, vai ter...
[00:38:26]
Está tendo!
[00:38:25]
Está tendo, né? Speed date de recrutamento.
[00:38:28]
Está tendo, está acontecendo! É! Eu estou lá e estou aqui! Está acontecendo os dois... Então assim... Não esperar o momento cem por cento ideal, cem por cento propício, no caso de uma empresa, porque ele não vai existir. Isso não vai acontecer, tá? Então assim: se a gente fica esperando demais, na verdade a gente nunca vai fazer, porque a gente sempre fica com aquele medo... "Será que consigo também trazer aquele perfil e fazer aquela pessoa se sentir bem?"... Cara, pode ser que justamente essa pessoa vai me ajudar a fazer com que ela e outras se sintam bem, sabe? Se eu nunca fizer, eu não vou saber! Então tem que fazer! Sabe?! Eu acho que esse é o primeiro ponto e por isso eu acho que esse primeiro passo a gente já está conseguindo dar, pelo menos aqui na Alana... Mas o segundo passo é não tratar essa pessoa como mão de obra barata, sabe? Eu acho que esse ponto... Poxa, ver aquela pessoa como um universo em potencial e tudo o que ela pode trazer. A construção que ela teve na vida, tudo que ela passou para ela conseguir aprender que ela aprendeu, o fato dela ter... "'Pô', eu busquei um projeto porque queria aprender uma coisa diferente da que eu estou acostumada", sabe? Então assim: eu, como empresa, tenho que entender... Sim, ela é mais barata que um outro profissional, é...! Mas não é mão de obra barata! Aquela pessoa é importante, é necessária, é fundamental! Se eu conseguir pegar aquele "gêniozinho" e ter mais duzentos "gêniozinhos" desses... Meu Deus, a empresa ganha demais com isso, sabe?
[00:40:10]
Eu posso pegar um link no que você falou? Primeiro que eu acho... A Alana é uma parceira nossa faz uma cota, já. E eles foram geniais numa coisa, que é: eles entenderam que... Eles fizeram um movimento do... Quem gosta de futebol vai entender a citação. O movimento que o Barcelona fez com o Messi. Eles pegaram o Messi novinho lá na Argentina, levaram embora e o cara é, tipo, o Messi! A Alana entendeu esse processo. No ano passado a gente teve... A gente já tá com dois eventos... No ano que vem eu peço gol no Fantástico. Mas a gente está no segundo evento e no primeiro eles fizeram todo um processo de análise e contratação. Contrataram um dos jovens que estava começando no Prototipando, era a primeira turma. Numa conversa com o Marcel, ele chegou e falou assim: "cara, eu quero mais". Eu acho que o que ele está entregando é tão ou mais incrível que eu quero começar a pescar essa galera antes. E o que vocês fizeram esse ano é genial, e daí eu coloco um desafio para as empresas que estão aqui ou que vão assistir a gente: vem conversar com "nóis"! Porque a gente sabe da qualidade do jovem que está saindo daqui, e foi o que você falou: talvez ele é uma força de inovação, para não falar mão de obra... E uma força de inovação que tem um custo, talvez um pouco mais enxuto, mas que você precisa investir, cara! Que em muito pouco tempo ele vai ser o responsável por qualificar tua inovação. Vocês estão fazendo esse movimento aqui que eu achei, ó, sagaz; de abrir: "'pô', tem um evento, temos jovens incríveis; vamos começar a puxar essa galera para cá". Puxar enquanto eles estão começando também. Daqui a três anos, gente, esse espaço vai estar valorizado para caramba e vocês investiram antes. E eu acho que esse é o desafio que eu coloco para as empresas: invistam antes! Não esperem daqui dois, três, quatro anos... Porque não vai ter, cara.
[00:42:06]
Ô Fabiano, e você que está imerso neste universo, lá no Join.Vale também, tem alguma dica para quem está aqui e está pensando em iniciar ou migrar para a tecnologia? Que talvez está estudando alguma outra coisa...? Que dica você poderia trazer para esse jovem?
[00:42:22]
Ah, a dica, assim... Vem para o mundo da tecnologia, porque não só os números que foram falados, que são absurdos da falta desse profissional... Mas é toda a tendência de futuro. A gente está vivendo um momento da história de... Essa palavra virou moda, eu não gosto muito dela, mas "é o que é". É um momento disruptivo. A gente está vivendo um momento de transformação da humanidade. Assim como nós, por muitos séculos, caminhamos a cavalo e de repente veio toda a Revolução Industrial e hoje, em várias profissões, simplesmente desapareceram... A gente está vivendo esse momento agora. Muitas profissões estão desaparecendo e vão desaparecer numa velocidade ainda maior. Coisas repetitivas, coisas que não usam intelecto... Coisas, atividades insalubres, perigosas... Todas essas vão ser substituídas, ou por uma inteligência artificial, ou por um robô e por aí vai. Então quem... E aí o Yuval Harari, que é um escrito israelense que tem chocado com algumas teorias... Ele fala do "desacoplamento", que a gente está em vias de ter um desacoplamento na sociedade, onde a gente vai ter praticamente duas classes distintas de seres humanos; que é um ser humano que evoluiu e aquele que ficou "inempregável", ou seja: nenhuma habilidade que aquela pessoa tem serve. isso é assustador. Mas a gente está vivendo esse momento e passa por conhecer de tecnologia. Linguagem de programação não é "ah, é a minha profissão"! Não, é uma skill, é uma habilidade, que qualquer profissional vai precisar saber. Então vocês que estão iniciando agora a carreira não têm dúvida, não têm dúvidas... Você pode depois escolher uma outra profissão lá na frente, tem inúmeras vertentes, como foi mencionado fora da área de tecnologia, mas aquelas habilidades ali vão ajudar. Vão ajudar para caramba, (você) vai ser um profissional diferenciado. Então, assim, sou suspeito para falar, mas esse é o setor, esse é o momento. Acelera! [Risos].
[00:44:37]
Perfeito! Ninguém perde por aprender, né?
[00:44:39]
Exatamente!
[00:44:40]
Conhecimento nunca é descartado. Muito bem.
[00:44:44]
É só... Gente, valoriza o que vocês sabem também, tá? Tem várias coisas que às vezes uma pessoa que está trabalhando... Às vezes a gente está tão imerso numa situação nossa de gestão que a gente perde alguns conhecimentos, tá... Eu vou dar um exemplo que não é bobo, tá? Mas é um exemplo que, por exemplo, pessoas da minha geração estão com bastante dificuldade de "rampar" nisso, que é o TikTok, vídeos curtos, gestão de desenvolvimento de comunicação mais curta, rápida, ágil... A gente está com bastante dificuldade, tá... De pessoas, aqui, "mais trinta", por exemplo. Estão com muita dificuldade de conseguir "rampar" esse tipo de desenvolvimento de comunicação, tá? E, por exemplo, é uma coisa que muitas pessoas que estão abaixo dos trinta têm mais conhecimento, tá... Porque naturalmente está mais... Está mais exposta. Então procurem o conhecimento, façam o que vocês já estão fazendo, sim, porque para a gente é muito válido, é maravilhoso... E valorizem o conhecimento que vocês têm, que a gente não tem.
[00:45:55]
Maravilhosa. E se quiser desenvolver a comunicação: "arroba", Suzana Carvalho, ponto, oficial! Professora de oratória que vai ajudar você! [Risos]. Alguém tem alguma pergunta para esse grande painel? Ó! Temos dois corajosos ali, vou levar até vocês o microfone. Muito obrigada, Fabiano.
[00:46:21]
Eu queria, na verdade, mais apresentar uma ideia que também é parecida com o Prototipando... Que tem uma escola em São Paulo, que vem de outro país, que é uma escola sobre programação onde eles fazem assim: eles (coordenadores) pegam pessoas que querem aprender e jogam numa sala, e eles dão um desafio para eles (alunos); um projeto que eles (alunos) têm que fazer, que é uma sintex e um logo. E a maioria dos alunos não sabe nada! E o interessante desse projeto é que não tem nenhum mentor; eles têm que aprender sozinhos, pesquisando por eles mesmos... Mas eles têm só os amigos deles, os parceiros e as pessoas que estão com eles para ensinar também. Que eu acho que é isso que é o mais interessante, porque desenvolvem relações entre os estudantes e os companheiros, os colegas, e eles aprendem a aprender sozinhos também.
[00:47:13]
Qual é seu nome, querido?
[00:47:15]
João Vitor.
[00:47:16]
Você está falando da Escola Quarenta e Dois, né? A Escola Quarenta e Dois é parceira nossa, do Prototipando, desde o ano passado... E a gente está... Depois procura aí... Está vendo como fazer para levar jovens de Santa Catarina para lá. A Quarenta e Dois é uma... E eu acho que isso é um ponto que você trouxe que é incrível, cara: inspiração! Quem nos inspira, né? Quem são os lugares, os espaços que nos dão e boas ideias para a gente implementar dentro do Prototipando, dentro dessas cabeças que estão fazendo ele acontecer. A Quarenta e Dois é uma influência. A Quarenta e Dois é uma escola que começou na França, foi para o Silício e está no mundo inteiro. Eles trabalham com a formação de engenheiros e analistas de software e tal, de uma forma em que você não tem um professor. Você não tem professores: (alunos) aprendem a partir da plataforma e da troca da mediação entre pares, né, um termo da pedagogia... Você vai aprender com o seu colega. E é uma uma influência muito grande, parceira gigante nossa. Eu estava conversando com a Karen, que é a CEO de lá na semana passada, e ela trouxe algumas outras ideias de outros lugares. Então pensar essas influências é legal e apresentar isso para os educandos também. Tipo, pega essa escola que você conhece e conversa com a tua galera; fala sobre ela e pensa: "como é que eu vou para lá?". Acho que esse é um ponto legal, "como que eu vou chegar nesse lugar?".
[00:48:35]
Muito obrigada, tá? Pela sua pergunta.
[00:48:38]
Boa tarde! A minha pergunta é direcionada ali para o Prototipando, na realidade sobre os talentos que você forma... Quando você forma esse talento, ele sai do Prototipando, ele entra no mercado de trabalho... Como você fala ali da tríade... É você gerar essa confiança, essa autoconfiança, para ele se emparelhar com outra pessoa que, por exemplo, foi criada num ambiente muito confortável, aquele tal berço de ouro... Como você cria essa confiança para ele falar: "eu posso competir com ela", "eu posso disputar essa vaga"... Que é um mercado de trabalho muito feroz, que é o mercado de trabalho... Como você gera isso nele?
[00:49:14]
Depois você pergunta para os camisas pretas e os camisas azuis, eles contam direitinho para você, mas tem uma coisa que... Eu vou falar uma palavra, (por)que ela é muito importante, que é "empoderamento", e ninguém poderá ninguém. A gente cria mecanismos para que a galera vá se sentindo empoderada e fala: "poxa, eu não estou de igual para igual, eu tive que caminhar muito mais que esse 'parça', então, 'porra', eu sou genial, 'parça'!". "Eu tive que caminhar muitas pedras a mais", sacou? Então esse é um processo que vai sendo construído com o tempo. Sabe uma crítica que eu tenho muito, assim, forte? É: não dá para você colocar só um curso na mão da galera. Você precisa criar mecanismos para a galera poder se empoderar e entender: "'puta', aquele curso faz sentido para mim!".
[00:50:05]
Dá... Dá subsídio para pessoa poder fazer, né. Assim... Dar um ambiente seguro para que ela se empodere e para que ela diga que isso realmente vale a pena. "Eu quero fazer isso!". "Isso é importante para mim!", "isso vai ser importante para as pessoas que estão ao meu redor!". Eu acho que disso também se trata o empoderamento.
[00:50:29]
E o quanto mesmo nas pessoas que têm condições de fazer, às vezes, uma faculdade, que foram todo ano para Disney, mas que faltou a base dos valores de casa e que se tornou um adulto destruído por dentro. Também não buscou se curar, então ele tem um monte de diploma, mas, no mercado de trabalho, ele não tem esse posicionamento, ele não acredita que ele é capaz de mudar de área e ele se torna um cara mais grosso do que um apito de navio, e não entende que esse processo precisa vir de uma quebra dos padrões que ele foi alimentado até na fase adulta... Mas que dali em diante é questão de decisão e atitude diária. Falo isso com muita propriedade, de vir uma família desestruturada, de estímulos errados... Apanhei na cara até os dezoito anos... Mas isso não tirou o brilho do quanto eu acreditava que eu merecia. E quando eu me curei de dentro para fora e entendi que eu tenho valor que eu quero construir a minha história... É tijolinho por tijolinho que a gente vai se afastando dessas coisas lá do passado e que (as) tornam apenas lembranças que não machucam mais, mas que dali para frente é o que vai me empoderar de verdade.
[00:51:47]
Fábio virou nosso assistente de palco aqui, nosso Liminha!
[00:51:51]
Eu queria saber quais seriam os próximos passos que (você) vai tomar com o Prototipando a Quebrada... A constância de repetir o que já deu certo e de conseguir coisas novas, de conseguir crescer o Prototipando e levar para mais lugares.
[00:52:13]
O Bruno é o case que a gente falou do ano passado, tá? Mas é boa pergunta, daí eu vou jogar para a gente pensar, né... Eu gosto de colocar no coletivo. A gente entendeu, de um Prototipando, que... Isso, isso é um... Se eu puder dar uma dica; vocês pegam, eu vou jogar e quem quiser pegar, pega. E já era. Vocês vão errar. Esse é o ponto. A gente errou muito com o Prototipando, e a gente errou rápido, pique startup: errou, entendeu que errou, colocou a análise, foi para frente... Os próximos passos, Bruno, a gente tem um plano de dez anos do Prototipando. Está aqui dentro dessa cabeça, a gente está conversando... Todos os founders... Que é: conseguir atingir o adolescente que está lá na comunidade e ter todo um caminho com ele, até o ponto que ele abre a startup e vira mantenedora. Porque ele vai fundar e eu vou botar um desafio; dez anos, vocês me cobrem daqui a dez anos, tá? Dois mil e trinta e dois. Trinta e dois, né? A gente vai ter startup saindo daqui, deste lugar. A gente vai ter gente que vai mudar os processos de tecnologia e inovação saindo dessa sala. Por quê? Porque... Bruno é um exemplo, Bruno está "trampando". Está "trampando", né, Bruno? Está legal? Está curtindo, né?
[00:53:31]
Sorrisão...! Deve estar tirando quanto por mês, esse guri?
[00:53:32]
Hoje... Hoje a gente está colocando... Vinte e cinco por cento dos jovens estão trabalhando. Vnte e cinco porcento. Isso dá noventa e seis mil reais-ano na Quebrada, na casa de acolhimento. Esses jovens daqui dois, três, cinco anos, eles vão criar as próximas startups. Essa galera não deixa de ser Prototipando. Quando eles saírem, essa camisa preta que eles levando faz parte do processo. Eles vão voltar e esse... Esses (são) os próximos passos. Eles vão voltar e a gente vai criar outras tecnologias de aprendizado junto com essa galera. Então os próximos passos que a gente está olhando são esses. É desafiador para caramba. Já caiu o cabelo, a gente já teve tiro, porrada e bomba na gestão, (a gente) já teve que reaprender muita coisa... Mas tem uma coisa que eu acho "foda", que é: vindo de onde eu venho, não era para estar aqui. Está ligado? Palestrando, vindo de carro com o personal motorista, está ligado? Lá de Floripa para cá para trocar uma ideia. Se eu falasse isso para o Jeff de quatorze anos, nunca ia acontecer, e daí a pergunta que eu jogo para a gente poder pensar é: se a gente está pensando nesse processo de talentos para a tecnologia e inovação, onde vocês acham que a gente vai estar daqui a cinco anos?
[00:54:57]
Meu Deus! É... Eu acho que se a gente não começar... Se a gente não começar a olhar hoje para o talento de hoje e ter essa iluminação que a gente teve agora, que a gente precisa olhar essas pessoas como (os) indivíduos fantásticos que são, provavelmente a gente está quebrado, Jeff. [Risos]. Eu não queria dizer assim dessa forma, mas provavelmente o negócio não vai andar porque vai faltar talento e é reação em cadeia: vai faltar talento, a gente não vai conseguir entregar as coisa que a gente precisa entregar, a gente não vai conseguir desenvolver as coisas que a gente precisa desenvolver; ou a gente vai se adaptar, ou a gente vai quebrar. É isso vai acontecer.
[00:55:49]
O céu está até... Está até emocionado com todo esse movimento. Senhores, nós precisamos encerrar esse painel... Eu quero agradecer imensamente... [Gesto]. Por favor.
[00:56:03]
Eu queria fazer uma fala, e daí é aquela hora que os jovens do PAQ vão pegar o celular e vão marcar uma galera ali... Que, pegando nesse link, né, do que a gente falou... O sonho do (PAQ)... E eu quero estender esse sonho do Prototipando para todo mundo que está aqui hoje, né... A gente quer formar um milhão de jovens no Brasil, esse é o sonho grande. E vendo uma fala de um cara que admiro muito, que é o Emicida... Que ele tem um amigo, que é o Felipe Vassão, que é o produtor dele... Que ele fala: "cara, você tem que sonhar grande, mas grande mesmo, está ligado?". Você tem que sonhar com a lua. Se você sonhar só com a copa da árvore, você vai tentar subir e não vai chegar a lugar nenhum. Agora, se você sonha com a copa da árvore e, em vez de sonhar com ela, você sonha com a lua... Você vai chegar na copa. Então esse é o sonho grande que a gente do Prototipando tem. E a gente entende que isso não vai ser feito sozinho: é com parceria com a Elite, é com as empresas, é com a Alana, é com a galera dos PFs que a gente vai trocar ideia... É participando desses eventos (e) falando: cara, a gente consegue chegar... Se eu não consigo um milhão, quinhentos mil já é gente para caramba, cara! Então eu acho que... Eu queria fechar essa... Essa mesa... Que quando a gente fala de formar talento, a gente tem que sonhar grande para caramba. E eu gosto muito dessa fala do Emicida e do Felipe porque eu não estou sonhando pequeno. Eu não quero que a gente sonhe pequeno. Porque a gente vai transformar gente para caramba. Obrigado, tá?
[00:57:27]
Muito bom! Muito obrigada, viu?